Citronela Doc 2025 celebra as vozes e imagens que fazem pulsar o cinema do Litoral Norte e Vale do Paraíba
Evento gratuito acontece entre 27 e 31 de agosto de novembro em Ilhabela. Mostra reúne cinema, memória e identidade em produções que revelam a riqueza cultural do Litoral Norte e Vale do Paraíba
O Citronela Doc é um festival gratuito de cinema documental, realizado anualmente em Ilhabela (SP) e com exibição online para todo o Brasil pela plataforma Spcine Play. O evento apresenta uma seleção de documentários brasileiros de curta e longa-metragem, contemporâneos e premiados, sempre com foco na diversidade de perspectivas, temas e pontos de vista.
A programação inclui duas mostras principais, a nacional e a regional, com filmes do Litoral Norte e Vale do Paraíba, além de debates com realizadores e convidados e outras atividades artísticas, como música e teatro. Ao todo, serão exibidos 37 filmes: nove longas-metragens, 26 curtas-metragens e dois filmes de realidade estendida (XR), produzidos em 9 estados brasileiros.
Confira a Programação Completa aqui!
A biografia musical “Ritas” (sobre Rita Lee) está entre os destaques da Mostra Nacional do Citronela Doc 2025
Documentários do Litoral Norte e do Vale do Paraíba
A mostra regional do Citronela Doc 2025 apresenta filmes que retratam a diversidade cultural, social e ambiental do Litoral Norte e Vale do Paraíba. As obras abordam tradições populares, espiritualidade, arte, saberes ancestrais e identidades periféricas, destacando a força de comunidades indígenas, negras e caiçaras. Temas como racismo, LGBTfobia, especulação imobiliária e preservação ambiental também ganham espaço, sempre a partir de vivências locais.
São filmes que trazem manifestações religiosas populares, como “Dança de São Gonçalo – Tradição e Fé Caiçara”, dirigido por Felipe Scapino. O documentário resgata a força de uma celebração religiosa em Ubatuba em que fiéis dançam em agradecimento por promessas cumpridas e em homenagem às almas que se foram. Também vemos a força da fé popular em “São Pedro Pescador”, de J Valpereiro, mostra a devoção popular ao santo em São Sebastião. O documentário retrata a procissão marítima dedicada a São Pedro, organizada por pescadores do bairro de São Francisco, que se encontra com os barcos vindos da Ilhabela, também em homenagem ao santo.
Quando se trata de saberes ancestrais, o grande representante é “Djaexáa Porã – Um Olhar para o Futuro”, de São Sebastião, é dirigido pelo líder de uma comunidade indígena guarani, o Cacique Adolfo Wera Mirim. Registra a importância da vida e dos fazeres dos guaranis e denuncia um modo de vida e tradições que estão ameaçados.
A temática também aparece em “Banhado de Folhas”, de Mariana Diniz, filmada em São José dos Campos. O filme mergulha na realidade e no saber ancestral da comunidade do no Jardim Nova Esperança, ou Banhado, onde o rural e o urbano se entrelaçam em uma convivência delicada.
“Djaexáa Porã – Um Olhar para o Futuro”, de São Sebastião, é dirigido pelo líder de uma comunidade indígena guarani, o Cacique Adolfo Wera Mirim
Os fazeres artesanais e a arte também são um tema forte no festival. Nessa seara, vemos “Gugu Tecelã”, de Dannyel Leite, que retrata o manual dentro de um contexto de produção cada vez mais automatizado, ao trazer a história de uma tecelã que compartilha sua paixão pelo ofício e alerta para a importância de manter viva uma tradição ancestral. Já em “Fernando Bispo, uma Vida na Arte-Educação”, Raissa Fernanda se destaca em seu primeiro filme, que conta a história desse artista plástico de Taubaté que transforma material reciclável em obras de arte.
A arte, dessa vez na música, também aparece em “Dona Lourdes”, de Maria Sol Aranda, por meio do qual conhecemos uma sambista de Ubatuba que se prepara para subir, pela primeira vez, no palco do Teatro Municipal da cidade. Já em “Sois”, de Rafael César Figueiredo Barros, viajamos para outro gênero musical. O filme acompanha a criação de um álbum de MC Brenalta e mergulha na cena do hip hop e da música alternativa que pulsa nos saraus de São Sebastião. A poesia também está presente em “Entre Linhas e Lutas”, de Bruna Souza, que traz a batalha de Olívia Morena, moradora de Jacareí, para escrever e publicar sua poesia.
Já o divertido “Muito Além do Balcão”, de Diego de Menezes, traz um personagem fictício para falar sobre a cultura do boteco, bastante presente na cidade de Taubaté, do bar como ponto de encontro entre amigos e, claro, das comidas deliciosas que podem ser saboreadas no boteco.
Festival terá versão online em setembro
Na mostra online do Citronela Doc, que estará disponível na plataforma Spcine Play entre 1 e 10 de setembro, serão exibidos filmes com temas fortes e urgentes como “As Raízes das LGBTfobia no Brasil”, de Alexsandro Stenico. Nesse documentário somos conduzidos pela artista não-binária Guia, que investiga os motivos pelos quais existe tanto ódio contra pessoas LGBT e por que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans. Outro filme que traz a temática da luta contra o preconceito é “Trajetórias – Mulheres, Ofícios e Vidas”, de Raphael Carlos, que chega com as histórias de quatro mulheres negras, ligadas ao ativismo social e às artes.
Documentário de André Augusto e Pedro Furtado fala sobre pesca artesanal na comunidade tradicional caiçara do Bonete, em Ilhabela
Já “Sabores da Sobrevivência”, dirigido por André Augusto e Pedro Furtado, narra a resistência dos pescadores da comunidade do Bonete para preservar a pesca artesanal em meio à concorrência com grandes empresas pesqueiras. “Viajante das Marés”, de Litiane Fernandez, é filmado em Caraguatatuba e também mostra o cotidiano das comunidades caiçaras do litoral norte que vivem da pesca da tainha, retratando os desafios impostos pela concorrência com grandes corporações e problemas ambientais como a poluição.
Também resgatando a ancestralidade, em “Trancistas”, filmado em Caraguatatuba e São Sebastião, acompanhamos mulheres negras que transformam a arte de trançar cabelos em sustento, afirmação e expressão de identidade.
Na categoria “personagens”, o festival traz em “Candinha”, de Karola Lobo, a trajetória de uma das mais importantes artesãs de Taubaté ganha vida por meio do olhar encantado de Maria Flor, uma menina de 9 anos que se apaixonou pela história da artista ao ler um livro sobre ela.
Citronela Doc — Festival de Documentários de Ilhabela – chega à 5ª edição em 2025 (Foto: Marcos Finotti)
Sessões especiais completam o festival
O Citronela Doc também promove sessões especiais, fora das mostras. Elas são compostas por dois filmes produzidos por alunos que frequentaram a Escola Livre de Cinema Caiçara, em São Sebastião, em 2024. A escola é um projeto da Associação Cultural Citronela e ofereceu um curso profissionalizante para preparar jovens de São Sebastião, Caraguatatuba e Ilhabela para trabalhar no mercado audiovisual. “O Som da Maré” mistura ficção e realidade ao acompanhar uma jovem cineasta que volta à casa de sua avó, no litoral, após uma tempestade. Enquanto acompanha a especulação imobiliária que ameaça a população local e reflete sobre as mudanças climáticas que ameaçam os moradores com inundações, ela é atraída por um canto enigmático vindo do mar. Já “DÊsGRAÇAs”, da dupla Goraco, é a única animação na programação do Citronela Doc. O filme resgata uma lenda nas comunidades caiçaras de São Sebastião: a de uma figura sombria que aparece quando palavras de ódio ou desgraça são ditas. Representado como uma força opressora — e, simbolicamente, como o invasor colonial europeu —, o Mau Agouro é um alerta ancestral sobre o poder das palavras.
Fechando as sessões especiais, temos “Topo”, de Eugenio Puppo, gravado em São Sebastião por uma equipe de São Paulo. O filme é um relato impactante de como as obras de infraestrutura e a expansão do turismo estão transformando profundamente as vidas dos moradores de São Sebastião. Edivaldo Nascimento, morador da cidade e amante do cinema, decide registrar com sua câmera as transformações em sua terra. Enquanto isso, Iara enfrenta dificuldades ao tentar encontrar um novo lar no bairro da Topolândia, enquanto lida com os transtornos provocados pela construção de uma rodovia nos arredores de sua casa e uma tempestade inesperada assola a cidade.
Saiba mais sobre o Citronela Doc
O 5º Citronela Doc é realizado por meio do meio da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), do Ministério da Cultura, e do Programa de Ação Cultural (ProAc) do Governo do Estado de São Paulo, com produção da Associação Cultural Citronela e co-produção de Ver Para Crer, BR8 Cultural e Salga Filmes.
Locais:
Hostel da Vila (27 e 28): R. São Benedito, 202, Centro
Esporte Clube Ilhabela (29 a 31): Av. Força Expedicionária Brasileira, 73, Santa Tereza, Ilhabela (SP)